Ignorância é foda

maio 20, 2010

Entediado fui dar uma volta na praça na esperança de achar algum amigo para jogar alguma coisa, chegando lá só encontrei o velho José, ele vende aqueles colares, camisas e “outras coisas” de hippies. Cumprimentei ele e começamos a falar de rock clássico, Jimi Hendrix, Beatles, Cream e etc, José gostava de conversar comigo pois eu era o único que falava dessas coisas com ele, ao contrario das pessoas que só chegavam perto dele para comprar seus artefatos.

Quando falei da musica “Lucy In The Sky With Diamonds” (que tem as iniciais LSD) dos Beatles o José ficou meio bobado, me encarando com um olhar triste, aí ele começou a falar de sua juventude que se passou na época da Ditadura Militar no Brasil. Ele me disse que vivia numa fazenda bem isolada dos centros urbanos e dos militares, pelo que me contou devia ser uma comunidade hippie, onde eles plantavam e colhiam o que precisavam para viver (maconha). José era uma espécie de líder na tal comunidade, pois ele era o único que estava lá desde o inicio, vários hippies abandonaram e vários chegaram, enquanto ele sempre esteve lá. Os dias de farra duraram muito tempo, até que um dia uns militares apareceram lá e acabaram com tudo, todos  hippies foram presos, só o José conseguiu escapar.

Já que ele perdeu todos os amigos e aquela vida torta, perguntei se ele tinha alguma recordação daquela época, aí ele tirou da carteira uma fotografia, era ele e um homem barbudo, apelidado de “Saladino”, notei uma certa familiaridade na aparência do sujeito, então perguntei quem era o tal Saladino, José respondeu “Esteban Villarreal”, o nome de meu pai. Fiquei surpreso, mas não acreditei que meu pai teria sido um hippie quando era jovem, meu pai só pensa em trabalho e dinheiro, impossível que ele tenha sido um maconheiro.

Fui pra casa só pensando no que iria falar com o meu pai. Cheguei e ele estava na sala assistindo o noticiário,  sentei no sofá ao lado dele e lhe perguntei se conhecia um tal de Saladino, a reação de meu pai foi de espanto, deu um berro dizendo “DE ONDE VOCÊ TIROU ISSO?”. Contei a ele a conversa que tive com o José, emocionado meu pai confessou que era tudo verdade, depois complementou dizendo que a melhor coisa que ele fez foi ter abandonado aquela vida, porém, disse que se considera um homem que traiu a si próprio, que trocou a vida feliz por uma em função do dinheiro.

Sem mais nem menos, as 3:00 horas do outro dia meu pai me acordou dizendo que tinha uma missão, ajudar alguem realmente necessitado, mas esse alguem teria que ser um desconhecido. Por coincidência eu sabia quem precisava dessa ajuda: um jovem de Porto Alegre que havia gravado um vídeo no youtube pedindo ajuda financeira. Mostrei o tal vídeo para o meu pai.

Esse garoto é um pobre que tem problemas psicológicos e diabetes, que gastava 700 reais por mês só com seus problemas, no vídeo ele também tinha dito que o sonho dele era dar um VW Fox pra mãe dele.  Sensibilizado, meu pai disse que iria dar um VW Fox para o garoto, aí meu pai mandou um recado pelo youtube.

No recado, ele informou o nome da concessionária e que era só a mãe ou o pai do garoto irem lá buscar o carro. Depois de ter mandado o recado, meu pai ficou esperando alguma resposta, até que ela veio, o jovem debiloide respondeu meu pai com sarcasmo, achando que era uma piada, o jovem é tão burro que nem acessou o site da concessionária pelo menos, se tivesse dado uma olhada nas informações do site  iria perceber que o recado era real… A raiva de meu pai foi tão grande que ele berrou:

– QUE SE FODA ESSE RETARDADO ENTÃO

Assim acabou a missão de ajudar o próximo.


O Grande Sayaman

julho 15, 2009

Química sempre foi motivo de raiva pra mim, eu não aprendia a matéria de jeito nenhum, aquelas paradas de halogênio, tungstênio, alcalinos e etc acabavam com minha vida, nunca tirei uma nota que não fosse zero nessa matéria filha da puta. Ano passado bati o recorde da escola, com 4 zeros bem redondos e um -2 por ter escrito o nome do professor errado, o que me acabou me deixando de contrato, tudo isso resultou numa bela surra do meu pai. Papai disse que se eu reprovasse ele iria me mandar pra casa do meu tio que é sargento do exercito, ou seja, minha vida iria acabar.

Pedi ajuda para o Jovacir, meu melhor amigo e recém aprovado numa faculdade federal. Ele me ensinou o “básico” da matéria, as coisas ficaram fáceis pra mim, aprendi que “Halogênio”(Alô Gênio!) não é um cumprimento, mas sim um grupo da tabela periódica, também aprendi que Paracetamol não é um remédio feito para bucetas. Acabei me apaixonando por química, aprendi a matéria toda com muita facilidade, fiquei a nível de professor talvez, tanto é que fechei o meu Contrato(Prova Final), prova com mais de 10 folhas e 50 questões, meu professor até chorou de emoção enquanto corrigia minha prova.

Meu pai ficou muito orgulhoso e deu uma festa aqui em casa, só com o pessoal da família, nessa festa apareceu Rufina, a minha tia louca. Dizem que ela tentou matar a irmã com tesouradas, mas eu nunca acreditei nisso, como uma mulher tão dócil faria uma coisa dessas?

Fiquei conversando com ela por meia hora, até que ela resolveu ir embora, aí me pediu para que eu a acompanhasse ao caminho de sua casa, pois estava escuro e ela tinha medo de ser assaltada ou coisa do tipo, com toda bondade eu a acompanhei. Quando chegamos na casa dela fui direto pro banheiro de lá dar uma cagada, depois que defequei fui lavar as mãos, aí reparei que o espelho era um daqueles “espelho-armário”, aí fiquei curioso e dei uma olhada nos remédios que minha tia tomava. Tinha de tudo lá, Benflogin, Diazepam e Gardenal, como sou manjador de química eu sabia ambos tinham efeitos alucinógenos, principalmente Benflogin, só remédios recomendados para pessoas depressivas ou loucas mesmo.

Com medo de ser atacado por ela me despedi, ela falou que eu podia aparecer lá quando quisesse para tomar café e comer rocambole, ao ouvir isso pensei assim: “Até parece que eu volto pra aquela casa, vai que essa mulher resolve me matar”.

No outro dia falei com o Jovacir sobre remédios que tia Rufina tomava, aí ele disse que eu dei mole em não ter pegado alguns, realmente, fui burro mesmo. Depois de muito papo combinamos em ir lá fazer uma visita a tia Rufina, o combinado era eu ficar entretendo ela e o Jovacir ir no banheiro raptar pelo menos uma caixinha de Benflogin. Pouco depois já estávamos na casa da Tia Rufina, comemos uns bolinhos e ficamos conversando com ela por uns minutos, aí o Jovacir foi ao banheiro pegar uma caixinha de Benflogin… Deu tudo certo, exatamente como o combinado, demos o fora de lá. Eu e Jovacir dividimos as pilulas/drágeas, 3 pra cada um.

Em casa tranquei a porta do meu quarto para que ninguém me atrapalhasse, deitei na cama e tomei as 3 pilulas do Benflogin. Comecei a flutuar no ar, tipo gravidade zero, aí fui flutuando até o banheiro pra dar uma mijada e vi que estava usando a mesma roupa do Grande Sayaman do Dragon Ball Z.

Sayaman

Já que eu estava mascarado ninguém iria saber quem era eu, aí fui dar um passeio, saí voando pela janela daqui do quarto e dei umas voltas no quarteirão, eu pegava as correntes de ar e subia cada vez mais alto nos meus voos, muito foda, dava até uns friozinhos no estomago. Do nada eu comecei a me sentir muito mal e percebi que não estava mais voando, estava na cama do meu quarto, aí apareceu minha mãe falando que dormi por dois dias.

Próxima vez que eu for na casa de minha tia pegarei uma caixa de Benflogin ao invés de só uns comprimidos