Não é para qualquer um

agosto 31, 2010

Em 2002 meus pais mudaram de religião, se tornaram evangélicos, as coisas melhoraram bastante por aqui, meu pai deixou de ser alcoólatra, minha mãe parou de gastar no shopping e etc. Por causa desses avanços eu decidi também me converter para essa religião, participar dos cultos e etc, a ultima vez que eu havia entrado numa igreja foi em minha 1ª comunhão, anos antes.

A igreja era recente na cidade, bem grande, tinha ar-condicionado e cadeiras confortáveis, muito bom. Tinha um pastor de lá que era bem jovem, tinha apenas 23 anos, 6 anos mais velho que eu na época, por ser bem sucedido ele era ídolo das jovens na igreja. Eu pensava “porra, quero ser que nem esse cara, rico e jovem”.

Certo dia eu estava num clube aqui e notei que o tal pastor estava no estacionamento de lá, pelo que parecia ele tinha acabado de praticar algum esporte e estava partindo, fui me aproximando para o cumprimentar até que ele sacou um cigarro do bolso e começou a fumar, tinham umas latinhas de cerveja caídas ao lado de seu VW Santana prateado também. Virei as costas e fui embora de lá pensando no que havia visto. Falei  com meu pai sobre o pastor, aí ele me respondeu que é normal dar uma escapadinha, que pastor também é gente, pensei “tudo bem então, mas é estranho”.

No culto posterior o pastor falou sobre encostos, bruxaria e coisas do tipo, aí eu raciocinei, só podia ser um encosto que fez ele fumar e beber cerveja. Ok então.

Numa visita ao renomado cabaré “Tia Lúcia” onde só vão os dispostos a gastar fui surpreendido novamente, lá estava o pastor acompanhado de uma menina de no máximo 15 anos. Impossível que aquilo era encosto, o cara era um farsante e pedófilo ainda por cima. Me senti obrigado a contar a todos da igreja o que vi. Pois bem, na igreja procurei falar com as fiéis mais praticantes, chamei atenção delas e contei tudo o que vi, aí uma me disse que quem tinha encosto era eu e que inventei toda aquela história para derrubar o pastor.

Chamaram o pastor, levei um sermão bem humilhante e fui expulso da igreja. Foi o pior dia de minha vida.

O sentimento de vingança que sentia me fez bolar um plano que poderia mudar meu destino. Peguei a câmera filmadora Panasonic de um amigo emprestada para gravar um possível flagrante do pastor. Foi bem fácil, o miserável ia toda quarta-feira no Tia Lúcia e pegava sempre a jovenzinha. Descobri o telefone do pastor e falei para ele me pagar R$25 mil e deixar eu voltar e ser pastor da nossa igreja, se não, eu iria mostrar a todos a tal filmagem que fiz. Deu tudo certo, o imbecil me deu o dinheiro e mostrou a todos fiéis que eu me tornei pastor na igreja.

Uma semana depois ele foi preso pois deixei uma cópia da fita com uns policiais.

Inicialmente eu tinha dificuldades para ser pastor, mas depois que comprei um terno Armani  me senti muito melhor, com menos de uma semana já peguei o jeito, para ser pastor só é preciso falar com voz firme para ser convincente, por mais sem sentido que as coisas ditas sejam as pessoas vão acreditar pois quem está falando usa terno.

Atualmente sou o pastor mais respeitado da cidade, mando e desmando. Porém, eu também sou gente e dou umas escapadinhas, tenho o hábito de dormir no sofá com o controle remoto de minha TV LED introduzido no ânus, isso me dá uma sensação de poder. Não é para qualquer um.